sexta-feira, 2 de agosto de 2013

o cartomante ateu
cansado do destino e de destinos
deseja
que as coisas não se sucedam mais em narrativas
todos morrem em prosa
ou dormem
predominantemente dormem
ele deseja
não mais essa morte presente de cada segundo perdido
essa ampulheta movida a cinzas de cigarro
antes o tempo estático e intenso da poesia
onde tudo está acontecendo em vários agoras que se convivem
mesmo que ninguém veja
ou em pedras imóveis da zona da mata de Pernambuco
que não se importam com ser vistas
mas foi necessário ler mais uma vez esse livro movediço
(na versão de Arthur Edward Waite, presente de mme. Macambira)
e no embaralhar caiu a carta que diz Mago
o cartomante ateu tomou meio copo de cerveja na noite de Fortaleza
e baixou a cabeça

na outra mesa duas moças se beijavam

[airton uchoa neto] 

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