sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ORDENAÇÕES EMANUELINAS

Fortaleza, 10 de junho de 2013, 6h21
ainda não consegui dormir
talvez o sono em excesso seja imoral na corrida contra o tempo
o mundo construído lá fora
e construído dentro de todos os espaços e de todas as mentes
continua negando a vida com suas grandes merdades
(sim: com m, como vi no mais genial erro de tipografia)
e as grandes merdades do mundo estão cada vez mais lustrosas
cobertas com vernizes caros
falando ora com boa retórica
ora numa gritaria vulgar e vingativa de ressentidos sem expressão
bem banhadas bem perfumadas bem vestidas bem maquiadas
sob etiquetas padronizadas de eficiência
não tenha mais nojo dos seus dejetos
da merda sem metáfora
real
que os seus intestinos elaboram
às vezes com tanto trabalho
de todas as merdas essa é mais inofensiva
esqueça o que dizem os filósofos tristes
os desprezadores do corpo
confie nos seus olhos ouvidos pele nariz língua
confie nas suas veias que pulsam
nas suas mãos e nos seus pés e confie
sempre e sobretudo
no seu aparelho digestivo e excretor e nos seus genitais
femininos ou masculinos ou todos
tudo que é seu e é feito da sua carne não mente nunca
e sua verdade é honesta e não precisa da confirmação dos outros
pensadores & putas & pensadores & políticos & professores & pastores & padres
são todos profissionais da língua do p
e em segredo eles também peidam
confie em você, mortal vivo que a ampulheta ainda não venceu
arranque a palavra não da boca do mundo
o mundo que a televisão tornou real
e arranque a palavra não dos livros moralistas
será preciso tornar o não uma palavra nossa
e revestir a palavra com o ódio verdadeiro da voz
punhos contra muros verdadeiros
e revestir a palavra com o suor de verdade de quem conhece o sol
será preciso ver os livros incômodos
não como noites sombrias e sem esperança
mas como dias que começam

plenos do mais radiante desconhecido

[airton uchoa neto] 

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